27 outubro 2005

fragmentos de um conto

Eu escrevi um conto chamado "Pombinhos de Rapina". Eu gosto do título. E gosto tb de algumas partes (são 4 laudas ao todo....). Mas não funciona como um todo. Decidi então desmembrá-lo e publicar aqui os trechos q acho interessantes. Aí vai a primeira dose.

Ana, pequena furiosa, o que você pretende salvar? Quando renúncia a todo sentido, quando murmura coisas sem significado em seus emails, quando me manda fotos de suas transas acompanhadas de outras de poodles e orquídeas. O que acontecerá quando eu responder um de seus emails, pequena? Sua cabeça explodirá e seus sonhos cruzarão o Atlântico num vôo lépido, surreal, e quando alcançarem as froteiras do nosso lar se tornarão bestas enormes, com dentes afiados, prontos a me decepar a cabeça, como um preço pela sua morte já tão antiga. Você que me ensinou que a vida era assim mesmo e que não havia nenhum remédio se não a beleza. Apenas sua beleza era frágil demais, toda aquela festa de cores, tudo aquilo que se despedaçou tão facilmente em meio a nossas dores e desejos. É inútil enviar-me seus monstros, eles não me assustam mais. Eu estou curado de você, da sua morte, do seu medo, das nossas dores. Porque você me ensinou, pequena: seremos sempre a dor na memória um do outro. No entanto, isso não significará a morte, nem de longe.

5 Comments:

At 5:15 PM, Blogger Paulo André Araújo Dias said...

Opa, fiquei curioso! Quero o conto todo e uma conversa sobre ele depois... Ah, uma pergunta: há mais Manoel nos contos ou mais contos no Manoel?

 
At 10:31 PM, Anonymous Anônimo said...

foda, me deu vontade de ler tudo, achei realmente fascinante.

 
At 12:36 AM, Blogger mundosdevidro said...

bem, paulo, como eu te disse, acho eu há mais Manoel nos contos que o contrário rsss

e, beto, se eu reformulá-lo passo uma cópia pra vc ta? não estou satisfeito com ele como está. mas isso é muito de momento. talvez precise apenas de uma revisão, mas talvez seja caso perdido mesmo. rss mas estou achando q falta coesão...
de qualquer forma, essa foi uma solução que achei legal, publicar alguns trechos, pq acho q tem algumas partes realmente legais...

acho q vou acabar mesmo reformulando, ai passo uma cópia pra vcs dois.

obrigado pela atenção pessoas.
grande abraço.

 
At 11:26 PM, Anonymous Anônimo said...

sempre acha que sabe mais do outro que ele? muito incisivo, sempre. quase julga. talvez ensine :)

(me manda também quando refizer?)

provocação à parte, gostei:

"seremos sempre a dor na memória um do outro. No entanto, isso não significará a morte, nem de longe": não significará a morte, mas a memória persiste em carregar essa esperança de que poderia ter sido terno, não fosse monstruosa e cruel a impossibilidade de seguir caminho paralelo. a dor da memória... sempre triste demais. triste mesmo lembrar do que era bom. mas isso não significará a morte. nem de longe.

 
At 1:54 PM, Blogger mundosdevidro said...

rs será que vamos conseguir viver aquela melancolia do Benjamin? aquela que vislumbra o horror, faz questão de expô-lo, de evidenciá-lo e, ainda assim, se recusa terminantemente a se desesperar? acho que essa é uma questão de vida ou morte

 

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