Uma coisa marcou a minha semana: vi um homem chorar pq não pode se mover ou sequer controlar o próprio fluxo urinário. Eu o vi prostrado numa cama, chorando e urinando. E me veio aquela sensação que nunca mais me deixou desde que me causou a primeira vertigem (embora eu esteja cada vez mais capaz de suportar essa vertigem): o fato óbvio de que a vida é muito maior que eu. Me faz lembrar de uma frase de um conto que estou escrevendo (lentamente, como sempre): "como pode a vida me doer tanto como se fosse a primeira vez?" E cada vez mais me convenço de que essa dor não pode mais ser dita, apenas poetizada. Tem a ver com o que Walter Benjamin disse sobre o fato de que os soldados normalmente não retornam da guerra falastrões. Ao contrário, retornam emudecidos. Pela mesma razão Amos Oz, que foi combatente, se recusa a escrever sobre o assunto. Ele diz que memso Tolstoi fracassou na tentativa de dizer o indizível. A dor despedaça palavras. Por isso consegui escrever apenas uma frase naquele dia. Se bem, que eu tenho a constante impressão de que, no fritar dos ovos, não é de outra coisa q se trata toda teoria da modernidade
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Bem, o final de semana foi legal. Meu aniversario e do Marcelo. Ele dia 8, eu dia 9. Antes de conhecê-lo eu não dava muita importância pra data, não sou ligado nessas coisas. Mas hoje valorizo muito essa coincidência assombrosa. Acho sempre muito bonito sair do aniversário dele e entrar no meu, organizar a comemoraçao juntos e tal.
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Tô aqui maravilhado ouvindo o novo do Sigur Rós
9 Comments:
Oi! muito interessante isso que vc escreveu. Abraços
valeu hein.
Me interessa o seu interesse. De onde torrencia esse novo(?) deslumbramento ante a morte, ou melhor, não morte? Onde e quando a eutanásia te atingiu?
Conversemos a respeito
PA
a questão da eutanásia está um pouco adiante desse ponto aqui. escrevi um bocado sobre o assunto no orkut. não se aplica ao que eu tenho dito aqui. de qualquer forma ja te esclaereci os detalhes "pessoalmente" ne
é mesmo bonito a coisa no nosso aniversário - na verdade isso muito me estimula a comemorar -, e minha sensação atual anda meio nublada por um fumaçê que a vida anda paralizando... mas há coisas que nos levantam, pena que às vezes elas somem, aí a gente espera, onde o poético e o sombrio se instala.
Novo do Sigur Rós?! Como estou desatualizado. Que lástima...
não... acho que é tudo ao contrário. o horror dos soldados era a perda de experiência. a experiência nascia da palavra final de um moribundo. você tá mais perto disso. o horror dos soldados vinha das técnicas de trincheira da guerra, do horror da inflação e coisas da guerra. você viu gente que tem tempo de aconselhar, todo o tempo. gente que reflete sobre os acontecimentos vividos, como proust.
a não ser que ele não fale. ainda assim.... te faz rememorar. mais próximo de experiência que de modernidade escancarada, certeza.
(com o perdão da sincera opinião pseudo-científica sobre tema sofrido)
maíra, sua palavras me parcem bastante pertinentes, mas houve um equívoco. elas seriam exatas se eu houvesse dito que a dor que não pode mais ser dita e sim apenas poetizada fosse a dor do enfermo. não é. essa sim é um dor que possui um rosto, uma experiência singular, viva, cheia de história para todos os q vivem em torno dela (no sentido benjaminiano o oposto da "experiência vivida", ou "de choque"). mas eu estava falando da dor de se sentir pequeno diante da existência... essa é uma dor q tem uma matriz comum com a angustia barroca, como vc pode notar. é uma dor sem rosto, a dor da alienação do homem atlado na imanencia. justamente dessa semelhança, desse mesmo ponto doloroso diante dessa crise semântica é que benjamim vê a necessidade de atualizar o conceito de alegoria presente no barroco. como eu disse, suas palavras foram bastante pertinentes, considerando q vc tenha compreendido q eu me referia à dor do enfermo, mas não era o caso, qdo disse sobre a dor q deve ser poetizada. talvez eu não tenha me feito claro.
brigadu por escrever garota.
bju.
ps: los hermanos é legal sim rs
12:03 AM
pera q não soe mero pedantismo um esclarecimento aos eventuais leitores rss: qdo a maira falou sobre "exepriência" estava aludindo a um conceito de Walter Benjamin, filósofo que ambos estudamos. daí a discussão estar se dando nesses termos.
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