o abismo dos olhos
Disse-me que se destruiria de um modo belíssimo. E que eu veria fogos e luzes onde os outros encontrariam apenas mapas, lembranças, vozes e datas. Era fascinado por um relógio, pequeno, daqueles de bolso. Nessas horas tomava-o nas mãos fitando-o por minutos a fio. Meus pensamentos assumiam uma forma centrífuga e sempre acabavam num ponto, que se abria, se alargava e se tornava um fosso, mas não assustava. Sentávamos a sua borda e batíamos no fundo escuro a cinza de todos os cigarros. Batíamos ali todas as cinzas e, de repente, acabava. E não era exatamente uma paz aquilo, não seria esse o nome, caso houvesse um. Era um olho aberto. E houve uma época em que havia um espelho, cravado de olhos secos, finos como uma membrana.
Vê-lo ruir de forma tão purulenta não doeu metade do que dói agora a imagem daquele relógio.
2 Comments:
Belíssima a imagem do fosso e das cinzas...
beijo terno
é...
é.
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