01 novembro 2005

mais um

Vou acabar publicando o conto inteiro assim rs... bem, taí.

Foi Ana quem me ensinou a suportar todos os nojos do mundo, tudo de sujo que se faz sob as narinas de Deus. Dizia: "um espelho e um pouco de bom senso aplaca qualquer indignação". Obviamente ela não conseguia viver de acordo com esse princípio, mas acabava sempre se perdoando. É inegável que conseguimos cultivar a maior parte da intimidade que havia entre nós através desse exercício de sistematizar a percepção dos fragmentos que captávamos um do outro num todo arbitrário que nos propiciava certa calma.

Agora, diante do computador, me pego repetindo a mesma pergunta que já fiz tantas vezes: o que ela está tentando fazer a cada vez que me escreve, após longos intervalos, com este tom que pressupõe uma enorme e jamais perdida intimidade? Ana está tentando salvar alguma coisa, isso eu já entendi. Mas o quê exatamente? Não pode ser o amor, obviamente. Não pode ser.

12 Comments:

At 5:56 PM, Anonymous Anônimo said...

mas deus não existe. existe?

 
At 7:49 PM, Blogger mundosdevidro said...

não faço a menor idéia...
e não acredito nem um pouco que se possa saber qualquer coisa sobre isso.... mas Deus é uma ótima figura de linguagem, uma "imagem" muito interessante.

 
At 11:28 AM, Anonymous Anônimo said...

falar de deus é quase melancólico (talvez seja minha formação atéia pulsando o sangue). melancolia existe, a gente sente e quase vê. deus é imagem que não vê (nem sente).

imagens: acho que prefiro melancolia a deus.

 
At 1:00 PM, Anonymous Anônimo said...

Concordo contigo. Decidir sobre a existência ou não de deus ou qualquer outra entidade transcendente, ou mesmo inferir em alguma cosmologia complexa demais, que não desse mundo, não é algo muito inteligente a ser feito. Parece que o mais respeitoso, em todos os sentidos, é nos reservar a não nos posicionarmos/impormos o que achamos, pelo simples motivo de que ninguém pode saber com segurança sobre essas coisas. E sim, Deus continua sendo uma imagem interessante, funciona como ótima figura de linguagem, e deveras perigosa. Figura de linguagem alvo da consciência nossa, da alheia, como parece acontecer aqui, nos comentários.

 
At 1:16 PM, Blogger mundosdevidro said...

Maíra, falar de Deus é quase inevutavelmente melancólico pra quem pensa a questão de um ponto de vista existencial. Deus é uma promessa. Uma promessa absoluta. Se ele existe ou não faz TODA a diferença (tudo muda se ele existir), mas não há como saber... mas é interessante que memso na Bíblia vc encontra inúmeras manifestações dessa angústia perante o imponderável. Os personagens bíblicos muitas vezes tb erguem suas "antenas" na esperança de captar algum sinal mais "veemente" daquele que "É O QUE É" (pra alem dos limites da linguagem), daquele no qual "todas as coisas subsistem", aquele sob cujos olhos a história se desenrola... tudo muito dramático e bonito. apenas me falta o que estava disponivel a esses personagens bíblicos e a tamta gente a minha volta, aquilo que os faz manter os olhos mais ou menos firmes no céu: fé. meus olhos, assim como meu coração, estão cravados sobre essa terra. deus não pode me ajudar rs

 
At 1:01 AM, Anonymous Anônimo said...

(e como ter fé na modernidade, se cai quase toda instituição?)

e, se na modernidade há uma supervalorização do indivíduo frente ao social (que muitas vezes parece mesmo só uma soma de indivíduos, essa massa amorfa que a gente vê pelas cidades), eu digo que, pra mim, deus não existe.

e "seu deus não existe, tudo é permitido", já dizia o sábio mestre russo.

(acho que pro seu amigo aí em cima não falta fé. ou tô enganada? palpite, não provocação)

 
At 8:13 AM, Blogger mundosdevidro said...

não tenho a menor idéia sobre se ele possui ou não fé, no sentido religioso. creio que a alusão a deus, no início do texto, não passa de um recurso poético, mas não poso falar por ele, uma vez que o texto não deixa isso claro. mas não vejo por onde se possa deduzir que se trate de um crente.

sobre sua citação de dostoievski, bem, esssa visão é, a meu ver, bastante ingênua. pressupõe que toda moral deve, necessariamente estar fundamentada sobre preceitos metafísicos... a filosofia moral já avançou bastante para além desses limites, não? me ocorre agora, por exempllo, o conceito de racionalidade comunicativa em Habermas, na qual "racional" não é necessariamente aquilo que é passível de verificação objetiva e sim aquilo que é capaz de gerar, ou que advém do consenso. trata-se, a meu ver, de um consenso de racionalidade de denso substrato social, que protege de uma racionalidade instrumental.

não menininha, se o céu estiver vazio, nem tudo é permitido. pq nós escolhemos rumos, construimos sentido, fabricamos leis, tudo pra preservar, agonizantemente, como ramsters, nossa existência. e se vc tentar transgreduir, se vc tentar agir como se tudo fosse possível pq o seu céu está vazio, se vc ferir um denossos ideais, trancamos vc numa prisão e vc apodrece lá. ou te executamos, em lugares com um senso pragmático mais aguçado. e saiba que é justo assim. ora essa: estamos tentando viver, aos trancos e barrancos, e vc só pq precisa de deus pra discernir entre certo e errado, vai querer avacalhar? nada disso... rs nós somos a civilização minha cara

 
At 2:57 PM, Anonymous Anônimo said...

já te disse uma vez... aqui fica mais bonito se for espaço de ficção. ficção e poesia. esquece as análises.

(um conselho que você não vai seguir, eu sei).

 
At 3:03 PM, Blogger mundosdevidro said...

rss nao memso mocinha... ficção e análise nao são de forma alguma excludentes, e vc sabe disso. devaneio estetico puro não é muito a minha rs

 
At 3:33 PM, Anonymous Anônimo said...

Maíra, o Manoel já se adiantou por mim, palpite errôneo o teu, se se trata de uma fé religiosa.
Pode ser que tenha acabado funcionando mais como uma provocação mesmo, que seria inclusive uma bela provocação - me agradou, enquanto tal, apesar de vc negar tratar-se de uma.
De resto, o Manoel, ao expor com Habermas um exemplo de critérios de moral racional, não religiosa no sentido cristão ou algo que o valha, responde por mim. Fico preocupado com o efeito que meu comentário pode ter provocado, pois não me considero cheio de fé, como vc parece ter entendido. E também, como o Manoel, não encontrei em meu texto, relendo-o, algo que pudesse indicar tal coisa. Pelo contrário, quando consigo considerar-me alguma coisa, considero-me um puto.
Talvez o uso da palavra "Deus" esteja provocando algumas confusões, o que até confirma parte do meu comentário, quando disse que trata-se de uma figura de linguagem perigosa, exatamente por se tratar de uma idéia forte em nossa cultura.

Deixo duas provocações, sendo assim - uma pra ti e outra pro Manoel. Maíra, vc ter visto em meu comentário os pressuspostos de uma grande fé - o que inexiste - e sua procura por definição enfática no sentido de negar a existência de Deus, não poderia indicar a presença ainda forte de tal figura? Não na forma de fé, não é disso que falo, mas na composição de uma lógica de resolução racional das suas coisas.

Para o Manoel: mesmo os "avanços da filosofia moral" não desembocam em preceitos altamente metafísicos? Certo, que eles começam se firmando em preceitos mais ontológicos do que transcendentais, mas, no fim, sabemos como a coisa se resolve. Se resolve no campo do feitiço, da mágia, como diria Weber, ainda que completamente anuviada pela racionalidade. Digo isso porque, hoje podemos saber com carinhas como Heidegger, Foucault, e Habermas inclusive, que não tem como evitar a metafísica, e que o importante parece ser refletir sobre ela, elucidá-la, enfim, fazer suas opções e deixá-las bem claras.

 
At 3:35 PM, Anonymous Anônimo said...

Puxa, enquanto eu escrevia minhas considerações, prolixas certamente, não vi seus comentários. E então postei. Envergonho-me agora, diante a situação. hehe

 
At 8:32 PM, Blogger mundosdevidro said...

POUTZ, QUE BAGUNÇA rss mas eu to adorando isso aqui rsss

maíra, eu me confundi, sou memso um egocentrico rss vc acredita que eu pensei q vc tava falando do personagem? so qdo o luiz respondeu q saquei que era sobre ele q vc falava rsss engraçado é q o que eu disse podia memso ser dito sobre o luiz tb rsss portanto, luiz, a confusão foi minha rsssss

e eu sempre tive memso a impressão de que a maira ta preocupada demais em deixar claro que deus não existe rsss mas vai saber...

qto à filosofia moral, luiz, concordo, provavelmente não há memso como nos livrarmos da metafísica. se tem algo que deveremos para sempre a nietzsche é a clareza da convicção de que nós fabricamos nossos valores. o alicerce, creio eu, é sempre metafísico. lembro-me de nietzsche acusando os positivistas de metafísicos pq valorizavam a verdade acima de tudo, queria descobri-la em seus objetos, perseguiam-na, baseados na premissa, segundo nietzsche altamente carente de comprovação (implausivel memso, ele diria na genealogia), de que a verdade é um bem supremo.

nietzsche nao se constrangiria mesmo em dizer q a premissa da qual partia marx, de que uma classe nao deveria ser mais explorada por outra, é completamente impossivel de ser vista como uma verdade absoluta, mas sim como a expressão de um anseio, portanto, metafísica pura.

mas uma diferença enorme entre uma metafisica religiosa e uma metafísica secularizada... hummmm

essa última podemos buscar construir com o máximo possivel de racionalidade... novamente lembrando habermas, seu conceito de racionalidade não é o de uma substância através da qual se pode conhecer a verdade, mas de um procedimento atraves do qual se pode chegar a consensos...
tudo que disse aqui o disse partindo de minhas noções sobre netafísica, nunca estudei o assunto a fundo. mas acho q to certo.. rsss

grato pessoas

 

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