27 junho 2006

Eu dizia que é preciso saber viver em todos os cômodos da casa. Eu me perguntava quanto de mim teria que perder até achar a medida certa do silêncio. Calar-me sem sentir o gelo a me envolver. E nunca consegui dizer se era pavor ou arrogância o que me fazia querer encontrar a pergunta certa. Eu dizia que era justo e sábio visitar de vez em quando o velho quarto onde três gerações sacrificaram crenças e paixões. E achava-me disposto a perdoar-me caso a justiça e a sabedoria não se dobrassem em graça sobre mim. Eu me daria o perdão merecido caso a vida não aprovasse minhas tentativas de ser forte. Eu dizia e pensava que é um deserto quando a única indulgência com que se pode contar é o sua própria - porque perdoar a si mesmo é sempre uma guerra ingrata.

E eu me gabava de ter desistido um pouco da vida, daquela vida absoluta e salva, e agradecia a Deus por ter colocado em meu coração a modéstia que faz os cegos chorarem gratos por cada mísero som que lhes chega ao ouvido. Porque eu era pavor e os meus olhos estouravam a cada manhã Deus untou minha fronte com a lentidão e essa ausência de pressa tornou-se um novo sacramento para corações debilitados.

Ele me ensinou a ser doente e expulsou de mim sete demônios que me faziam almejar a santidade. E disse-me que era pecado querer ser são.

Desde então o velho quarto permanece de portas destrancadas.

E Deus desapareceu.

2 Comments:

At 9:18 PM, Anonymous Anônimo said...

Ele sabe a hora de chegar.

E...eu não sei mais o que falar, mas quero.

 
At 2:19 AM, Anonymous Anônimo said...

bem bom.

um confessionário.

 

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