22 maio 2006

Considerações sobre a arte e o abismo

Há de fato algo de indizível, algo de inefável, algo que nos envolve e nos escapa. Há tempos que penso que a única obra de arte que vale a pena é aquela que nos aproxima desse silêncio, não para dizê-lo, mas para arriscar-lhe uma interpretação. Acho que um dos méritos da arte é, além de nos situar no mundo, nos livrando do deserto da incomunicabilidade, nos tornar mais destros no manuseio dos apetrechos que inventamos para tornar a vida possível. Porque se boa parte da dignidade da vida reside no fato de que a inventamos como que brincando em torno de um poço no fundo do qual todas as questões referentes ao ser jazem insolúveis, então muito da beleza da arte talvez esteja no fato de que ela pode ser, em última instância, um modo de viver assim, à beira do abismo.

7 Comments:

At 7:34 PM, Anonymous Anônimo said...

Rapaz, muito bom isso!

 
At 5:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Meu grande amigo, estou abismado com meu poder de persoazão (ou com a importância que vc dá ao meu discurso confundido). Estamos indo para a borda do abismo!!!!!! I feel Luky

"Pull me out of the aircrash
Pull me out of the lake
'Coz I'm your superheroe
We are standing on the edge"

 
At 8:04 PM, Blogger mundosdevidro said...

Olha, eu sei que não é de bom tom corrigir os nossos heróis e, ademais, eu não sou de implicar por coisa pouca. Mas pra compensar a crase do post anterior, "persuazão" é com u, não com o. Há de ter sido um erro de digitação, certamente. ahiauhiahaihuiahaihaiahuiauhaihaiahaihai

Sobre prozearmos à beira do abismo, é bom pra não perder o hábito. A gente cai mas demora rs.

abraço

e, Carlos Eduardo, obrigado pela atenção de sempre.

 
At 12:10 PM, Blogger Dheyne de Souza said...

às vezes mais abaixo, às vezes mais acima, de qualquer forma em direção a um dos extremos

 
At 12:11 PM, Anonymous Anônimo said...

parece que a aura da obra tem o tamanho do mundo, e sair dali da frente dela é cair no abismo desse cotidiano desencantado - de futuros sem passado - que é nosso tempo. arte é resistência à força que empurra pro abismo. tenho essa impressão de que arte é salvação de algo, esperança de que se pode não cair no abismo. mas de que poder vislumbrá-lo é das boas - e poucas - experiências que há. melancólica demais? enfim, deixo um beijo.

 
At 2:35 PM, Blogger mundosdevidro said...

Concordo com a idéia geral. Faço apenas uma ressalva: esse caráter "messiânico" da obra de arte, essa "resistência ao abismo" que ela pode significar, a meu ver, não depende tanto da sua "aura". Aliás, uma das coisas mais libertadoras na estética benjaminiana é sua insistência em renunciar de vez à noção de aura, como quem se lvra de um recalque, como quem computa lucidamente uma perda irrevogável, e no ato mesmo desse triste diagnóstico se torna mais forte, mais vivo, pq não oculta de si os próprios limites, pq arca com a dor até as últimas consequências. O que Benjamin talvez não tenha tido temo de epnsar é que aquela antiga "aura" seria substituída por outra, mais modesta, imanente, radicalmente secularizada, perecível. Se era a uma aura assim que vc se referia, concordo plenamente.
Qto à melancolia, não é uma opção pra nós rs.

Outro beijo e até breve.

 
At 1:30 PM, Anonymous Anônimo said...

isso, isso, aura possível na modernidade, que quase não é aura.

melancolia não é opção? hmmm...

até, querido, até.

 

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