22 fevereiro 2006

eu falei que ela se levantaria.

Vai saber que demônio se apossou daquele corpo e o lançou, a passos largos, escada a baixo, dois, três degraus por vez, até se precipitar na rua, numa chuva torrencial. Sob o céu rosado de uma noite recém-chegado, lavando o gosto de whisky com a água da chuva, o cigarro se apagando em sua mão. Era como se o mundo fosse se acabar naquela chuva, como se até a terra sob aquele asfalto tão inexplicavelmente amado sorvesse aliviada aquela água por tantas décadas postergada. Porque isso é preciso dizer: há chuvas que não chegam nunca.
Num fôlego profundo levou o queixo até o peito e mordeu de leve o lábio inferior. A vida estava toda ali: revelada. Aquele amontoado de lacunas, aquela inquietude perene, e a calma que brota da resignação diante de uma vida sempre incompleta. Dali vinha força, por mais estranho que parecesse.
Olhou pro céu um instante, os olhos entre-abertos, se protegendo dos pingos ininteruptos, e pensou: Deus, como estou molhada. Devagar voltou para o hall do prédio e chamou o elevador.

6 Comments:

At 12:30 PM, Anonymous Anônimo said...

pois eu estou passando os dias assim: esperando o mundo acabar. e o pior é que é uma espera boa, muito boa.

 
At 12:35 PM, Blogger mundosdevidro said...

vai acabar querida, vai acabar, eu juro. rs
e depois vai começar de novo.

 
At 2:13 PM, Anonymous Anônimo said...

chuva é bem mais agradável que formol.
sabe disso né?!

sobre vocês ;"e depois do começo, o que vier vai começar a ser o fim"

eu e a minha legião urbana, SEMPRE!

hahahaha
:****

eae sumido!

 
At 6:38 PM, Blogger mundosdevidro said...

tá vendo? o renato russo escreveia tão bem! não sei porque foi inventar de cantar!

e, narrira, às vezes água, às vezes formol, depende da hora.

um bju, sumida

 
At 12:59 PM, Blogger mundosdevidro said...

pois eu nunca tive cd's e nunca goisatei de legião... estou incólume

 
At 11:46 PM, Anonymous Anônimo said...

eu quero me achar nessa mulher. daqui uns tempos reaparece em mim esse lado, mas agora não, inferno, saco, sei lá, nem adianta reclamar, eu que sei que depende de mim e só de mim fico me jogando na sarjeta mesmo. eu quero a chuva também, e o gosto de whisky, e queiro os beijos baratos, e quero as coisas vãs. mas eu também quero o fazer e o saber e o ser,., e sei lá, tanta tanta coisa. tudo sempre à metade.

 

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