08 fevereiro 2006

Faz um punhado de dias que não escrevo aqui. É que eu andei muito ocupado com a monografia. E depois de mais de 2 semanas revisando leituras e escrevendo até oito horas diárias, foi com imenso alívio que entreguei uma cópia pro orientador, outra pra arguidora e soube a data da defesa. Sexta-feira, 8:30 da manhã, no FCHF-UFG.

O processo de redação foi meio corrido, cansativo, o branco do word ferindo os olhos, o garimpo dos meus livros rabiscados em busca da citação certa etc etc etc.. mas gostei do resultado. Acho que foi um bom balanço desse um ano e meio estudando Walter Benjamin. Agora é ver o q a banca vai achar.

Durante a redação pensei muito numa questão que sempre pula cabeluda na minha frente: o que significa exatamente a escolha de uma vida intelectual, do ponto de vista profissional e existencial? Olhar o mundo através das lentes da literatura e das artes em geral é uma coisa. E mesmo a filosofia e a história se prestam a olhares diletantes. Mas escolher ambas como um olhar que é, inevitavelmente, um olhar sobre a existência e, ao mesmo tempo, uma perspectiva profissional, bem, aí é outra coisa. Trata-se de algo que suscita questões que ainda estou começando a tocar. Isso pq a imagem do "intetelectual de gabinete", que produz texto após texto sem uma real conexão de espírito com a vida, me causa horror. Mas como não compartilho do pessimismo de muitos colegas a respeito da vida acadêmica (aquele olhar negativista que não consegue ver na universidade outra coisa que não uma instituição opressora calcada em princípios hierárquicos etc etc etc) não me furtei aos caminhos do saber instituicionalizado (o mestrado começa em março).

É que acredito sinceramente que a teoria, a vida intelectual institucionalizada (a universidade) contêm um horizonte criativo, lúdico mesmo, que pode ser imensamente enriquecedor, apesar de toda a merda que nós já conhecemos, burocracia, jogo de favores, rixas idiotas etc etc etc
As relações entre essas esferas, entre História, Filosofia, as artes em geral e a nossa vivência cotidiana é o que me causa mais interrogações. Sobre isso tenho várias perguntas que poderiam, se resumir, grosso modo, naquela que é um imenso clichê e que ainda suscita debates interessantíssimos: o que é ser um intelectual hoje?
E mais: o que é ser um intelectual em formação? rs Estou sondando as raízes que esse tipo de olhar tem no chão da vida.

No mais ando cada vez mais calado e distante. E de saco cheio de msn e orkut.

ps: o termo "intelectual" é tomado muitas vezes de forma pejorativa em ambientes não acadêmicos (e até na universidade!). Aqui usei-o pra referir-me ao tipo de pessoa que, em certa medida, olha pra vida através das lentes das humanidades, quase sempre vinculado profissionalmente a alguma instituição de ensino superior.

6 Comments:

At 9:58 AM, Blogger Moinho S/A said...

intelectuais passam muitas vezes confundidos por aqueles outros que olham através de lentes corretivas....rs

 
At 11:08 AM, Blogger Polysbela said...

Quase não há o que responder a vc... de questionamento, suas frases têm só o ponto de interrogação, rs.
Uma consideração: que não se confunda conhecimento e intelectualidade ou educação e intelectualidade. Em inúmeras vezes não estão no "mesmo saco", nem do mesmo lado.

 
At 1:03 AM, Anonymous Anônimo said...

ferreira gullar foi/é anti-academia. anti-academista, sei lá, foda-se até.

mas e aí? como que foi a defesa?

beijos, narrira.

 
At 2:57 PM, Blogger Dheyne de Souza said...

sem mais para o momento.

 
At 12:50 PM, Anonymous Anônimo said...

Aee! Sabes que me ocupo dessas questões, então aí vão algumas leituras interessantes sobre os intelectuais, a intelectualidade ou a chamada intelligentsia, como preferir.
- BASTOS, Elide Rugai e RÊGO, Walquiria D. Leão (organizadoras). "Intelectuais e Política – a moralidade do compromisso". Editora Olho d’água, 1999.
- BOBBIO, Norberto: “Os Intelectuais e o poder – Dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea”. São Paulo. Editora UNESP, 1997.
- GRAMSCI, Antonio: “Cadernos do Cárcere”. Volume 2: Os intelectuais. O princípio educativo. Jornalismo. Rio de Janeiro, RJ. Editora Civilização Brasileira.
- MANNHEIM, Karl: “Ideologia e Utopia”. Rio de Janeiro, RJ. Zahar editores, 2º ed., 1972.
- _____ "O problema da ‘Intelligentsia’. Um estudo de seu papel no passado e no presente". In.: MANNHEIM, Karl. Sociologia da Cultura. São Paulo: Perspectiva / Edusp, 2004.

E mais Bourdieu, qualquer coisa. Sim, somos bem chatos, eu especialmente. Acabo de institucionalizar um singelo post do seu blog. Aff, bando de intelectualóides chatos!

 
At 7:03 PM, Blogger mundosdevidro said...

Narrira, foi tudo bem com a mono. Tirei 10, o trabalho foi bastante elogiado, tudo ótimo. E, Luiz, vc vai me passar esses bagulhos todos, a começar pelo Gramsci...

 

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