30 outubro 2005

outro fragmento do mesmo conto

"Decidimos morar juntos, e havia algo de ridículo nisso. Porque éramos lúcidos demais pra não nos constrangermos diante daquela nossa tentativa de ter fé no futuro. Apenas fazíamos a coisa da maneira errada. Quer dizer, que o sujeito queira ter fé no futuro é problema dele. Mas há um outro jeito de esperar o futuro que não seja exatamente confiando nele: pode-se apostar. Há uma porção sempre reservada de incredulidade numa aposta. No entanto o que fazíamos era justamente o contrário: nós que não tínhamos fé nem para acreditar que no domingo faria sol o bastante para secar a roupa de sábado, passamos a colecionar gestos, cacoetes, um monte de quinquilharias sentimentais que nos faziam agir como se acreditássemos no futuro, mesmo quando estávamos a sós. Como se fôssemos o tipo de casal apaixonado que acredita que a porra da conspiração cósmica está a seu favor, e com ela Deus, os patrões e os juros bancários. É vergonhoso dizer, mas uma vez falamos em ter filhos. E isso tudo em poucos meses. Dois ramsters fugindo da solidão. Que imagem anêmica era aquela."

Fico relendo isso e pensando nesse sujeito, o narrador. Que tipo de figura é esse cara? Tão ressentido por não conseguir ser só, e por se tornar tão vulnerável quando movido por essa incapacidade... é o que me parece. Mas não o compreendo bem. Apenas acho que não era assim tão anêmica e patética aquela imagem. Quer dizer, era, mas não gosto de ouvi-lo dizendo assim. É que os gestos de dois ramsters em fuga não são apenas anêmicos e patéticos. São humilhantes também. E desproporcionais, e perigosos, e infantis e muitas vezes cruéis. Mas também infinitamente dignos e belos. Uma bela merda e, ao mesmo tempo, um espetáculo de rara beleza. Há em mim um sorriso terno e desconfortável para isso tudo.

28 outubro 2005

Alívio

Ufa. Comprei meu ingresso pro show do Dream Thetaer hoje. Passei uma semana angustiante por causa disso rss. Primeiro veio a notícia, no começo da semana, de que os ingressos pra pista pra primeira data de SP tinham esgotado. E platéia superior é foda, fica lonjão... dizem q a do Credicard Hall é ainda pior. Já a segunda data não me interessa, uma vez que não tenho grana pra ir nas duas (no segundo dia em SP eles vão fazer cover de algum disco clássico, tudo indica que será o Dark Side of The Moon, vcs sabem de quem). Daí ontem vou comprar o ingresso pro show no Rio e descubro que não vendem meia pela internet, pqp. Até q consegui comprar em Brasília (obrigado Ricardo e Giovanna!!!). 9 de dezembro, pista, Claro Hall no Rio!!!!! heheheheheh
Os ingressos estão esgotando e o show ainda é em dezembro ( 9 no Rio e 10 e 11 em SP)!!!! Pensa em alguém que tá contando os dias... 42 no momento, se não me falha a cabeça. rssss

ps: Paulo, eu juro q deixo vc ver as fotos.
credo como eu sou mal.

27 outubro 2005

fragmentos de um conto

Eu escrevi um conto chamado "Pombinhos de Rapina". Eu gosto do título. E gosto tb de algumas partes (são 4 laudas ao todo....). Mas não funciona como um todo. Decidi então desmembrá-lo e publicar aqui os trechos q acho interessantes. Aí vai a primeira dose.

Ana, pequena furiosa, o que você pretende salvar? Quando renúncia a todo sentido, quando murmura coisas sem significado em seus emails, quando me manda fotos de suas transas acompanhadas de outras de poodles e orquídeas. O que acontecerá quando eu responder um de seus emails, pequena? Sua cabeça explodirá e seus sonhos cruzarão o Atlântico num vôo lépido, surreal, e quando alcançarem as froteiras do nosso lar se tornarão bestas enormes, com dentes afiados, prontos a me decepar a cabeça, como um preço pela sua morte já tão antiga. Você que me ensinou que a vida era assim mesmo e que não havia nenhum remédio se não a beleza. Apenas sua beleza era frágil demais, toda aquela festa de cores, tudo aquilo que se despedaçou tão facilmente em meio a nossas dores e desejos. É inútil enviar-me seus monstros, eles não me assustam mais. Eu estou curado de você, da sua morte, do seu medo, das nossas dores. Porque você me ensinou, pequena: seremos sempre a dor na memória um do outro. No entanto, isso não significará a morte, nem de longe.

24 outubro 2005

referendo

Essas são as primeiras linhas que escrevo sobre o assunto. Não escrevi antes pq tava pensando e só de última hora consegui me decidir. No entanto, uma vez tomada minha decisão, não tenho dúvidas de ter feito a melhor escolha, ou pelo menos a mais coerente com o que penso. Eu pensei em votar não, movido pelo argumento de que o estado não é capaz de arcar com a segurança pública. Esse pensamento está fundamentado sobre um pessimismo que tenta a todos nós num país em que a violência é uma questão tão desastrosa. Mas por outro lado, desde o começo, achei que o sim representava um passo importante no esforço de criar uma nova mentalidade contra a violência. Desistir do papel do estado na administração da segurança pública e chamar essa responsabilidade para si cria um sério impasse: em todo estado democrático de direito está pressuposto que este é um papel do governo. Como deixar de confiar no estado nesse âmbito e continuar mantendo-o em todos os outros? Não se trata obviamente de confiança num sentido melodramático, mas sim formal, ou seja: ou atribuímos ao estado os papeis que lhe competem (portanto, confiemos nele) e o pressoinamos para que arque com essa responsabilidade ou desistamos de vez do estado e passemos a viver em coletivos ou cooperativas. Como não sou anarquista optei pela primeira opção e votei sim.

21 outubro 2005

violência e abuso de autoridade da pm de Goiânia, mais uma vez

Ontem, sexta, 20 de outubro o professor e estudante Éveri Sirac (vocalista da minha banda, actemia) foi preso numa manifestação contra o aumento da tarifa de transporte coletico e pelo passe livre para estudantes aqui em Goiânia (aumentaram subitamente a passagem de 1,50 para 1,80). Nem precisa explicar muito o q aconteceu, todos que conhecem esse tipo de manifestação conseguem imaginar com grande margem de acerto o ocorrido. Uma série de estudantes caminharam até o setransp pacificamente para intregar uma carta de reivindicações e, na volta, promoveram o ato simbólico de saltar as catracas da plataforma leste bandeirantes. Foi o suficiente para que a pm aparecesse com armas em punho. É óbvio que prenderam o Éveri por ser o primeiro ao alcance da mão. Teriam prendido qualquer outro se não fosse ele, com a finalidade de coagir e "dar o exemplo" do que acontece com "baderneiros" desse tipo. Simplesmente lamentável. A seguir alguns links do site do CMI com o depoimento dele e com uma breve matéria sobre o ocorrido.

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/10/333013.shtml

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/10/333051.shtml

19 outubro 2005

Há sobre os meus olhos um cansaço indelével, e em todo o meu corpo um silêncio feito de escombros. Não é a ausência de palavras que me emudece, mas o fato de estarem todas aos pedaços. Um vento muito antigo faz tremer as minhas mãos enquanto, arrancando-os do peito, tento conferir a esses cacos uma unidade mínima, uma única imagem duradoura que seja. E quando cessa de soprar por um instante esse vento deixa atrás de si o desalento que se torna cada vez mais familiar (deixando, pouco a pouco de ser um obstáculo absoluto à alegria) : meu mosaico está cheio de falhas. Há cacos sobrepondo-se e vãos por onde pode-se passar um punho cerrado. E sempre a dor das palavras depedaçadas.

10 outubro 2005

Uma coisa marcou a minha semana: vi um homem chorar pq não pode se mover ou sequer controlar o próprio fluxo urinário. Eu o vi prostrado numa cama, chorando e urinando. E me veio aquela sensação que nunca mais me deixou desde que me causou a primeira vertigem (embora eu esteja cada vez mais capaz de suportar essa vertigem): o fato óbvio de que a vida é muito maior que eu. Me faz lembrar de uma frase de um conto que estou escrevendo (lentamente, como sempre): "como pode a vida me doer tanto como se fosse a primeira vez?" E cada vez mais me convenço de que essa dor não pode mais ser dita, apenas poetizada. Tem a ver com o que Walter Benjamin disse sobre o fato de que os soldados normalmente não retornam da guerra falastrões. Ao contrário, retornam emudecidos. Pela mesma razão Amos Oz, que foi combatente, se recusa a escrever sobre o assunto. Ele diz que memso Tolstoi fracassou na tentativa de dizer o indizível. A dor despedaça palavras. Por isso consegui escrever apenas uma frase naquele dia. Se bem, que eu tenho a constante impressão de que, no fritar dos ovos, não é de outra coisa q se trata toda teoria da modernidade

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Bem, o final de semana foi legal. Meu aniversario e do Marcelo. Ele dia 8, eu dia 9. Antes de conhecê-lo eu não dava muita importância pra data, não sou ligado nessas coisas. Mas hoje valorizo muito essa coincidência assombrosa. Acho sempre muito bonito sair do aniversário dele e entrar no meu, organizar a comemoraçao juntos e tal.

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Tô aqui maravilhado ouvindo o novo do Sigur Rós



08 outubro 2005

Que dor é essa que umidece colchões e desmancha sorrisos antes mesmo que eles se mostrem por inteiro?

05 outubro 2005

quisera eu ser pós-moderno


fragmentos fragmentos fragmentos fragmentos

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e a impossibilidade de qualquer totalidade

sempre a mesma e velha dor

02 outubro 2005

Evergrey em Goiânia

Bem, o show do Evergrey foi sexta (30), mas ainda está em tempo de tecer algumas palavras. Em primeiro lugar a tristeza de saber que a turnê com o Pain of Salvation passou até por Limeira, SP, mas não veio pra Goiânia, Brasília ou BH. O sonho de ver o PoS ao vivo vai ter que esperar mais um pouco. Com esse espírito fomos eu e minha namorada pro Goiânia Arena ver o power/prog metal (mais power do que prog, convenhamos) dos suecos do Evergrey, sabendo que não íamos encontrar muita gente por lá: o Evegrey nunca foi das mais adoradas bandas de prog metal. Vanden Plas ou Superior, por exemplo, teriam levado mais público. E como ninguém faz evento pra tomar ré, ficou evidente o que todo mundo pode concluir sem refletir muito: os organizadores não sabiam onde estavam pisando, o que se confirmou já no primeiro momento da noite.

Para iniciar o evento subiu ao palco um sujeito da 97 fm com aquele papo de "boa noite galeraa, muito agito e rock and roooooooollllll, é isso aí, eu quero ouvir o barulho da galeraaaaaaaaaaa". E eu me pus a desejar sua morte no instante seguinte, o que infelizmente nao aconteceu: o sujeito voltou no intervalo de todas as bandas. Uma das vezes inclusive trazendo 4 garotas que queriam gritar de tão justas que estavam suas bermudas. Nada mais forçado. Sai a criatura do palco e entra a primeria atração: um figura chamado OZIELZINHO. Isso mesmo, Ozielzinho. Parece que é de Brasília, se não me engano. Depois verifiquei, o cara tem 3 comunidades dedicadas a ele no orkut, uma com mais de 6oo membros! A performance? Uma das coisas mais rdidículas que já presenciei. Gente que fala que o Dream Theater é masturbação musical precisava ver aquilo. O cara esgotou em 3 ou 4 faixas, não me lembro, todos os recursos técnicos aplicáveis à guitarra até onde os conheço. Um monstro realmente. Mas de uma chatice insuportável! Detalhe: o cara tocou acompanhada de um playback!

Terminado o primeiro suplício subiram ao palco os veteranos do Khalice, banda que já teve como vocalista Mario Linhares, ex-Dark Avenger. Bem, houve uma época, até os meus 19 anos em que eu só ouvia metal. Prog metal e metal melódico em particular. Nessa época talvez o do show do Khalice me cativaria, afinal a banda exibiu uma performance impecável, técnica exuberante e com prsença de palco intensa. Mas tudo de uma redundância... O mal de toda banda de prog metal depois do Dream Theater é achar que basta vc quebrar o andamento inteiro e colocar alguns ruídos cacofônicos pra fazer o que de mais vanguardista há no metal. O melhor momento do show foi quando fecharam com Under a Glass Moon, do Dream Theater. Eu cheguei a dar um pulo na cadeira (sim, eu tava na arquibancada, sentadinho com minha namorada que cochilava de 5 em 5 minutos esperando o Evergrey). Execução perfeita. E eu so pensava "eu vou morrer no show do Dream"". Isso é sério, eu vou ter um infarto certeza.

Entre o Khalice e o Ata Darc houve uma demora imperdoável, denunciando o amadorismo de todo o evento. Alguém me responde o que a 97 tava fazendo organizando um show de metal? Eles não têm idéia do que seja metal!!! E dá-lhe o gordinho chato: "muito rock and roll aí galeraaaaaaaaa? Dauqi à pouco E-VER-GREY!!! Muito rock e muita paz!" E eu: morre, morre , morre. Subiu o Ata Darc. Heavy tradicional prato cheio pra quem curte Running Wild, Hammerfall e Acept, de quem aliás eles tocram um cover. Embora os músicos fossem fuderosos eu achei chato também. Mas que eu não curto muito heavy tradicional (um Iron, um Judas, no máximo) então, mais uma vez, sou suspeito. O show foi coeso, intenso e a maior parte do pessoal parecia estar adorando. Os melhores momento na minha opinião também foram os que rolaram covers, no caso do Gamma Ray (Rebellion) e do Judas Priest (Painkiller, é claro).

Mais de de duas da manhã, eu já morrendo de sono e ainda teria que aguentar mais uma enrolação até entrar o Evergrey. Pra meu desespero a banda foi precedida pelo gordinho que dessa vez destilou a pérola "põe a mãozinha pro altoooo!!!!". O cara achava que tava no show do Chiclete com Banana... E subiu o Evergrey. Pra quem fez 5 shows com o Pain of Salvation, todos certamente lotados, deve ter sido meio desanimador tocar para um público que encheria no máximo o Cererê. Mas se foi o caso souberam disfarçar bem. Após uma introdução sampleada entraram com um peso descomunal, que aliás se manteve durante todo o show. O guitarrista e o baixista não paravam de bater cabeça um único segundo criando uma verdadeira usina de bases pesadíssimas. Nos telões rolavam imagens do dvd da banda. Aliás, outro furo da organização: durante o show das bandas de abertura eram exibidos clipes do Kamelot e Épica (que eles juram que vão trazer em dezembro...). Puta desrespeito, na minha opinião. Eu acho o Evergrey uma banda esquisita. Acho massa, mas esquisito. Talvez por isso eu os aproxime na minha cabeça de outras boas bandas de prog que também acho esquisitonas, tipo Eldrtich ou Superior. Mas essa esquisitice significa originalidade. Não sei se foi o sono, ou tudo de ruim que teve antes dos caras subirem ao palco, mas não me empolguei muito. Na minha cabeça eu não deixava de pensar que foda mesmo seria se o Vanden Plas tivesse abrido essa turnê do PoS... Fui pra casa com a desconfortável sensação de ter ido num evento amador e broxante. E todos os bons momentos do show do Evergrey me faziam pensar que poderia ter sido uma grande noite não fosse uma organização tão fudeba. De minha parte eu continu clamando aos céus pra ter Radiohead no Brasil, uma vez que minhas preces foram atendidas e o Dream Theater já ta confirmado...